segunda-feira, 23 de julho de 2007

A palavra: o convencimento (retórica)
Poder
Verdade x mentira
Jogo de máscaras
Valores da sociedade que estão mudando: provas no comportamento, nos signos do vestir, nas identificações com os lugares/cenas/comportamentos/relacionamentos de poder
O exemplo que vem de cima autoriza a inversão de valores aqui embaixo. Parece até um programa de propósito acionado pra criar o pânico e precipitar uma diferenciação entre os mentirosos e os bobos/fracos.
Metáforas do titanic são usadas, assim como da arca de Noé
São símbolos de um mal iminente, e de que se deve vestir essa carapuça do mal.


Enquanto eu tenho a mim, nada vai me faltar.
Contra a melancolia, "levanta, sacode a poeira e dá volta por cima"
O cinismo está muito presente.
No barco do titanic ou da arca de nóe não cabe todo mundo. É a política do desespero, da tragédia, do salve-se-quem-puder, do fim dos sonhos, e da ceifação dos destinos de acordo com o que cada um plantou. É o fim dos tempos. O dilúvio universal da economia globalizada, das economias emergentes querendo reservar seu lugar no vôo dos abastados do primeiro mundo, rumo a um Brasil de dinamismo e tecnológico das altas classes burguesas e políticas dirigentes. Os melhores sobreviverão. E quem são os melhores? Os espertos, os negociáveis, os articulados numa rede de poder, ou com qualidades ímpares que sejam de utilidade sustentar as aparências, criar os valores do mocinho mesclado ao vilão, que se dá bem por seu jogo de cintura e falta de humanidade na consecução dos seus objetivos de sobrevivência no mercado mundial. O anti-herói da defesa dos seus interesses de pôr abaixo uma cultura do ócio e da ingenuidade para fazer emergir um mundo de maldade e esperteza. A lógica animal dos que sobrevivem adaptados a uma velocidade de airbus, prontos a mudarem as máscaras conforme a necessidade como num grande circo de diversões que não passa na hora do desespero de um grande circo de horrores. São as últimas horas da viagem no planeta onde todos devem disputar seus acentos no vôo final que vai permitir o passaporte para a próxima era do dilúvio e dos que não temem o mal desde que possam ter cada vez mais sucesso, fama, prestígio social, dinheiro para comprar os meios da aparência, da farsa, da mentira, da fraude necessários aos fins de sobrevivência no mundo competitivo da inteligência, astúcia, esperteza, vilania e glamour. São os estertores últimos dos peixes que morrem na praia e a glória exultante dos leões que devoram suas crias. É um cenário dramático, sem dúvida. De holocausto, de hecatombe, de dilúvio, de apocalipse. A natureza humana em xeque na sua definição moral renascentista, iluminista; em prol da própria ausência mesmo de uma natureza humana que se defina em termos de bem ou de mal, mas sim de fronteira cinzenta indefinível, em que homens se misturam com bestas, com deuses e a dimensão humana sai de cena como que esquecida de suas funções civilizatórias de se prestar um valor ou outro de edificação moral da unidade de um ser humano ideal. Não há. O homem em sua acepção de ser humano dotado de virtudes e vícios estratificados em comportamentos morais das classes sociais que se revezam na pirâmide da história é desde esse início de milênio um ser (?) já caminhando para a extinção. O humano é eterno como dizem os fraudadores de Shakeaspeare. O corpo desvencilhado das emoções é possível? As máquinas abrem caminho nesse sentido para a dessensibilização do corpo humano. Para a desconexão entre o que se convencionou associar corpo humano a emoção e, conseqüentemente, à vida como sinônimo de felicidade, em que vingava uma utopia de belezas eternas. É o fim das utopias. Não há corpos mutilados que reclamem um coração, senão figurarem numa cadeia de retroalimentação dos egos automatizados na fúria do controle do poder. Poder é a palavra do futuro. No seu sentido máximo de autoritarismo e de controle das mentes desmioladas de suas vísceras humanas. O poder do automatismo, da hipnose, da idolatria, da submissão à palavra salvadora dos homens sem alma. O corpo não é mais a morada da alma. O corpo se desubstancializou. O corpo não é referência da alma. O corpo é uma memória do vazio da alma. Do vazio do humano, da ausência do caráter. É o fogo do inferno.
Num país em crise de trabalho, como reflexo de uma crise moral, onde o bolo não dá pra ser dividido pra todos, tem que haver uma seleção: e é pelos mais fortes que se dá essa seleção; pelos menos mimados, pelos autônomos que se articulam em função de interesses que podem criar oportunidades, e se adaptam a desafios que tem por condição sine qua non a encenação. Fazer o público acreditar na mentira que foi contada, usando da alegoria para passar suas mensagens e se fazer entender por um público de massa heterogênea; uma didatização com cara de diversão e dramatização, como mostram os programas de auditório do tipo “Pânico na Tv”, o formato do telejornal de Datena, Brasil Urgente ... os programas evangélicos da Igreja Universal exibindo curtos trechos ou capítulos de novelas sobre o drama da vida, focando nos vícios do ser humano, e conclamando os irmãos à salvação em nome da fé. “Você tem fé? Então Deus é com você”. A literatura se juntando com o jornalismo de Linha Direta, em formato de séries televisivas com narrativas que intercalam o relato do jornalismo investigativo, o documentário de arquivos de imagens, a teledramaturgia questionando ficção e realidade, e abrindo caminho para a interpretação histórica. Dá-se voz às partes envolvidas do crime, do lado da investigação e do investigado, tendo em conta as respectivas testemunhas de acusação e defesa, como reza o bom jornalismo ético. Introduz-se elementos da literatura, em que uma evidência (uma carta, um argumento afetivo de uma testemunha até então não elencada) permite uma reviravolta no sentido das investigações tradicionais no sentido de apresentar uma nova versão para a solução do caso, ou uma nova peça do quebra-cabeças que vai alterar a original linha de investigação. E se pretende desse jeito, fazendo jornalismo investigativo questionar a história por meio de interpretações que confiram aos presentes homens o livre-arbítrio de decidirem sobre seus destinos e moral, julgando culpado ou inocente o réu. De outro modo, o que consta nos autos da investigação como culpado só pede a interferência da população civil para a identificação do culpado com vistas à agilizar a ação da polícia na resolução desse caso que recebe o apoio da mídia como um serviço público de fazer a justiça aos olhos da população que já não acredita em justiça, mas só em impunidade. O programa é um discurso que chega a ser irônico transfigurando a realidade em ficção, e criando a ilusão de um sistema de justiça que põe em cena a cara de gente como a gente na televisão, onde os cidadãos desprotegidos podem purgar pela imaginação e pela ilusão de ordem pública e segurança seu total estado de abandono à sua bela sorte na vida da criminalidade que assalta a vida social.

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