terça-feira, 1 de maio de 2007

esperando um café?

É nessa xicrinha linda de porcelana com motivos florais, que era xodó da minha mãe, onde boto agora a terebintina em que molho meus pincéis. Ela freqüentava minha mesa de café da manhã quando eu era pequena me trazendo sempre sinestésicas recordações. Eu era louca com o pote de açúcar desse jogo de porcelana, mas ele quebrou. Era a peça que eu mais usava. Adorava o som que fazia quando punha a tampa de volta e ela tilintava. Isso ficou com o cheiro de pão, de manteiga, de brisa molhada da manhã, de café, de sossego, de paz. Mudei de casa e essa porcelana me acompanhou. São as essências da infância de que a gente não consegue se desvincular. Com ela vem o cheiro do café da manhã, a varanda da Oscar Trompovski onde tomávamos o café, o vento de brisa que me acordava suavemente de manhã e a faixa morna de sol que cortava a minha mão me aquecendo o corpo inteiro. O pote de açúcar se foi, ficou a xícara e é nela que agora ando molhando os meus pincéis. ... agora lembrando, antes de tudo era o branco daquela porcelana, o peso e a lisura, o leve relevo que sentia no toque dos motivos, o extremo da fragilidade ... uma beleza eterna assim enquanto dure ...

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