sexta-feira, 30 de março de 2007

O selvagem e a história: os antigos e os medievais (Klaas Woortmann)

"Santo Agostinho, na Cidade de Deus elabora o que é provavelmente a primeira filosofia da história escrita do Ocidente. É o primeiro passo no sentido da compreensão da evolução da humanidade como um todo, o grande projeto da Idade Média. Constituído no âmbito da interpretação teológica, tal projeto, ainda que modificado e por vezes laicizado, permaneceu vivo até pelo menos o século XIX, pois era fundamentalmente um projeto cristão".
(...)"O esforço de periodização era parte da grande ênfase posta na "história universal" destinada a determinar o fim do mundo. Se o estabelecimento de períodos já representa um pensamento histórico, implica uma temporalidade mergulhada numa percepção religiosa do mundo e voltada para o futuro. O livro de Beda é, para Whitrow (1993), o locus classicus do conceito de "idades do homem": a vida humana não transcorre num tempo contínuo, quantitativo, mas é pontuada por descontinuidades, de uma "idade" para outra.
Basicamente, trata-se, segundo Whitrow, da mesma idéia que seria utilizada por Van
Gennep, em 1909, para elaborar sua teoria dos "ritos de passagem", clássica no pensamento antropológico. Assim, poder-se-ia dizer que o tempo medieval era um tempo ritualcósmico.
Se o modelo das seis idades evocava a Criação, ele competia com outro modelo, o
das quatro idades do homem associadas às quatro estações do ano, aos quatro pontos
cardeais e aos quatro elementos da matéria segundo Aristóteles".
(...) "A Cidade de Deus é como que uma mediação entre uma concepção antiga,romana, voltada para o passado e outra, nova, voltada para o futuro e para a revelação divina".

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