sexta-feira, 13 de abril de 2007

a memória em questão: uma perspectiva histórico-cultural

Compreendi melhor a fala da Diel com esse texto
"Simonides de Céos, poeta e pintor no século V a.C., parece ter sido o primeiro a estabelecer os princípios, ou a definir as regras dessa arte. A recordação mnemônica requer 1. a lembrança e a criação de imagens na memória; 2. a organização das imagens em locais, ou lugares da memória. Como poeta e pintor, Simônides trabalha articuladamente os métodos da poesia e da pintura: pintura é poesia silenciosa; poesia é pintura que fala. Tanto para a poesia como para a pintura, e também para a arte da memória, é dada importância excepcional à visualização intensa. É preciso ver locais, ver imagens.
Podemos imaginar que formas dessa arte, eram, de fato, utilizadas pelos bardos e contadores de histórias na Antiguidade. O que Simônides introduz ou formaliza como prática é indicativo, no entanto, de certas mudanças nas formas de produção e organização social, de base exclusivamente oral, em transição para a escrita. Mudanças que transformam a posição do poeta na sociedade.
A partir dos princípios e regras ensinados e publicados por Simônides, desdobra-se, apura-se com os gregos e os romanos, a mnemotécnica: Ad Herenium, livro compilado por um professor anônimo de retórica; De oratore, de Cícero; Institutio oratoria, de Quintiliano; formalizam os princípios, propõem e detalham os métodos. Em seu maravilhoso livro, The Art of Memory, Frances Yates comenta sobre essa Arte, dando-nos a conhecer sobre esses princípios e métodos.
Vamos agora, considerar a valiosa casa de invenções, a guardadora de todas as partes da retórica, a memória... Há dois tipos de memória, uma natural, outra artificial. A memória natural é gravada em nossas mentes, nasce simultaneamente com o pensamento. A memória artificial é a memória fortalecida ou confirmada pelo treino. Uma boa memória natural, e também uma fraca, podem ser melhoradas pela arte (thecné)".
(...) "Agora, eu vou falar da memória artificial... A memória artificial é estabelecida a partir de locais e imagens, a definição do guardado para ser repetido pelos tempos. Um local é um lugar facilmente apreendido pela memória, como uma casa, um espaço entre colunas, um canto, um arco, etc. Imagens e formas, marcas e simulacros (formae, notate, simulacra) daquilo que queremos lembrar. Por exemplo, se queremos lembrar o gênio de um cavalo, de um leão, de uma águia, devemos colocar suas imagens em determinados lugares".
(...) "O tipo de imagens para memória de palavras são do mesmo tipo que as da memória para coisas, ou seja, elas representam figuras humanas de um caráter espantoso e não usual e em situações dramáticas surpreendentes – imagines agentes (Yates 1966, p. 13)."

Nenhum comentário: