http://www.eesc.usp.br/nomads/eventos/flash/FLASH_res_renata.doc "... as três principais fontes da Arte da Memória (3 textos latinos) que foram base para todos os desdobramentos posteriores dessa arte: o livro anônimo Ad Herennium, o tratado De Oratore de Cícero e o Instituto Oratório de Quintiliano, focalizando a questão da memorização relacionada aos espaços, tal qual é apresentada por Quintiliano. Com a desintegração do Império Romano do Ocidente, no século V (476 d.C.), que marca o início da Idade Média, temos a abordagem da Arte da Memória pautada pela influência da escolástica. Nesse período a Arte da memória está relacionada à arquitetura através de Modelos Mentais, como o Inferno de Dante e ainda Modelos Concretos, como as Catedrais Góticas".
... "mais do que imaginar ambientes, imaginar lugares para a mente, os teóricos da Ars memorativa acreditavam que era necessária a construção desses espaços. A partir das colocações de Frances Yates, afirmando que a Arte da Memória no período Renascentista ‘abre’ com o Teatro da Memória de Giulio Camillo e ‘fecha’ com o Teatro de Robert Fludd". Esses são os dois MODELOS CONSTRUÍDOS nos sistemas mnemônicos do Renascimento, entre os séculos XIV e XV, em que a arte da memória parte do hermetismo que tem grande influência nesse período.
A arte da memória na contemporaneidade enquanto processo: MODELOS HÍBRIDOS (= modelos mentais + construídos). Elaborado, em geral, por arquitetos e artistas digitais.
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http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/53.pdf
"A história da arte da memória
A arte da memória foi inventada pelos gregos. Atravessou a antiguidade clássica como parte da
retórica, sobrevíveu parcialmente ao desmantelamento do sistema educacional latino e refugiou-se
nas ordens dominicana e franciscana durante a Idade Média. No Renascimento foi aos poucos
abandonada pelos estudiosos humanistas, mas floresceu e ampliou suas ambições sob as influências
herméticas. Com a chegada do século XVII transformou-se de novo, participando ativamente no
crescimento do novo metodo científico.
A história da arte da memória é contada no livro de Frances A. Yates The art of memory, um
trabalho único, erudito e brilhante, que teve origem na tentativa da autora de entender os sistemas de
Giordano Bruno
(ver seu livro anterior Giordano Bruno and the hermetic tradition). Ela faz uma resenha de toda
tradição de memória, mostrando o papel básico desta arte no desenvolvimento das idéias na Europa".
Simônides de Ceos foi o fundador da arte da memória. Episódio do banquete com o nobre Scopas, na Tessália.
sua técnica consistia na criação de lugares em ordem e a colocação de imagens fortes nos lugares criados. É a memória artificial. Talvez várias regras já fossem conhecidas antes por bardos e contadores de histórias. Assim como a arte da memória pré-Simônides pode ter tido origens em Pitágoras e fontes egípcias.
Os textos gregos da arte da memória em si não nos chegaram ao conhecimento. Foram os FILÓSOFOS que deixaram comentários sobre a arte da memória.
metáfora da memória (PLATÃO E ARISTÓTELES): tábua de cera. Nela se escrevia e imprimia coisas.
ARISTÓTELES:
arte da memória se atrelava à sua teoria do conhecimento. Não era possível APRENDER sem o uso de pelo menos um dos sentidos, e a visão dominava sobre os demais. Até o raciocínio especulativo depende de imagens. Aristóteles dizia que o conhecimento partia da experiência. Foi fundamental para o desenvolvimento escolástico da arte da memória. A tradição retórica da memórica, a que pertence a escolástica, se vincula a ele.
PLATÃO:
Existem idéias inatas ou latentes. E aí a memória era mais necessária. Não podia ser uma simples mnemotécnica, mas tinha que ser uma memória artificial com base na realidade, a fim de criar modelos ideais de realidade = "realidades ideais". Foi fundamental para as formas da arte no Renascimento.
PRINCÍPIOS GERAIS DA ARTE DA MEMÓRIA segundo Quintiliano (a arte da memória sobreviveu como parte da arte da retórica até bem pouco tempo):
obs.: meu trabalho: construir um lugar assim da memória
- construir na memória uma série de lugares (lugares mnemônicos). O tipo mais comum é o da arquitetura. Prédios - templos ou palácios. Criar dentro desses lugares espaços como salas e corredores, tanto mais espaçoso e variado melhor. E decorar esses espaços com objetos diversos decorativos e estátuas. Depois de construído o lugar com seus espaços e decoração de interior, a estratégia pra se decorar aquelas palavras e idéias do discurso que se quer decorar é associá-las a imagens fortes que são postas imaginariamente nos espaços memorizados dentro daquele lugar. Pra lembrar o que foi armazenado (os dados/fatos) é só visitar os lugares e seus espaços um por um e recolher a imagem que foi posta ali (deixou de ser um bicho de sete cabeças!).
O orador era aquele construía esses "quartos" de memória na sua cabeça pra lembrar do discurso a ser feito. Ele faz um trajeto com as imagens e palavras/idéia principais que ele tem que percorrer para discursar.
ATENÇÃO: as imagens têm que ser FORTES o bastante para serem lembradas (aí entra o grotesco, pode ser) e ORDENADAS (por números? letras? sinais?).
o lugar de memória também pode ser: um mapa da cidade (com praças, monumentos, ruas, etc.); o trajeto de uma viagem assinalando todas as suas paradas; construções abstratas como um sistema celestial de lugares (modelo criado por Metrodorus de Scepsis); Agostinho "salvou" o que sobrou do sistema educacional clássico
fundamentado nas sete artes liberais - gramática, retórica, dialética, aritmética, geometria, música,
astronomia - quando os oradores entraram em baixa com a idade média e a memória se transferiu da retória para a ética. Os dominicanos (Alberto Magno e Tomás de Aquino) estudam a memória, que é parte da virtude Cardeal Prudência (a qual implica além da memória, inteligência e previdência). Se cria então uma memória artificial que serve pra lembrar os prazeres (céu), promessas de salvação (purgatório) e tormentos (inferno) da alma. Símbolos disso são as obras de Giotto (pintura espiritual) e a Divina Comédia de Dante (sistema). Formaram o imaginário da Idade Média. Recorrer a essa memória passa a ser DEVER MORAL E RELIGIOSO. Não é a toa que eu sempre duvidei de tudo desde pequena!; Ramon Lull cria uma arte da memória da vertente franciscana (ordem mendicante), e é um neoplatônico que não sucumbiu à escolástica em alta do seu tempo, portanto sem origem na tradição retórica (forte nos dominicanos). Suas "dignitates dei" (nomes divinos) está para as "realidades ideais" de Platão. Não está ligado a uma verdade espiritual que reveste as coisas em sua experiência incorporada, mas sim a uma causa primeira, um a priori. Substitui as letras por nomes divinos e através de círculos concêntricos possibilita as mais diversas combinações, a partir de uma "lógica natural" tirada da realidade. Juntou aos nomes divinos o misticismo da cabala judaica em voga na Espanha, e jogou isso tudo na arte da memória, de modo a fazer da arte um instrumento de investigação para uma verdade em que é preciso conhecer as regras da arte. Sua memória artifical é então uma memorização das regras da própria arte; "Giordano Bruno inventou uma memória mágica altamente sistematizada e complexa, um tipo de alquimia da imaginação, onde as imagens dos decanatos do zodíaco se combinavam nas casas com as imagens dos planetas. Como em toda magia, ele assume a existência de leis e forças ocultas regendo o universo. Esta perpespectiva de um universo animista, descrito magicamente por leis mágico-mecânicas, preparou a visão futura do universo descrito matematicamente pelas leis da física".
... "mais do que imaginar ambientes, imaginar lugares para a mente, os teóricos da Ars memorativa acreditavam que era necessária a construção desses espaços. A partir das colocações de Frances Yates, afirmando que a Arte da Memória no período Renascentista ‘abre’ com o Teatro da Memória de Giulio Camillo e ‘fecha’ com o Teatro de Robert Fludd". Esses são os dois MODELOS CONSTRUÍDOS nos sistemas mnemônicos do Renascimento, entre os séculos XIV e XV, em que a arte da memória parte do hermetismo que tem grande influência nesse período.
A arte da memória na contemporaneidade enquanto processo: MODELOS HÍBRIDOS (= modelos mentais + construídos). Elaborado, em geral, por arquitetos e artistas digitais.
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http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/53.pdf
"A história da arte da memória
A arte da memória foi inventada pelos gregos. Atravessou a antiguidade clássica como parte da
retórica, sobrevíveu parcialmente ao desmantelamento do sistema educacional latino e refugiou-se
nas ordens dominicana e franciscana durante a Idade Média. No Renascimento foi aos poucos
abandonada pelos estudiosos humanistas, mas floresceu e ampliou suas ambições sob as influências
herméticas. Com a chegada do século XVII transformou-se de novo, participando ativamente no
crescimento do novo metodo científico.
A história da arte da memória é contada no livro de Frances A. Yates The art of memory, um
trabalho único, erudito e brilhante, que teve origem na tentativa da autora de entender os sistemas de
Giordano Bruno
(ver seu livro anterior Giordano Bruno and the hermetic tradition). Ela faz uma resenha de toda
tradição de memória, mostrando o papel básico desta arte no desenvolvimento das idéias na Europa".
Simônides de Ceos foi o fundador da arte da memória. Episódio do banquete com o nobre Scopas, na Tessália.
sua técnica consistia na criação de lugares em ordem e a colocação de imagens fortes nos lugares criados. É a memória artificial. Talvez várias regras já fossem conhecidas antes por bardos e contadores de histórias. Assim como a arte da memória pré-Simônides pode ter tido origens em Pitágoras e fontes egípcias.
Os textos gregos da arte da memória em si não nos chegaram ao conhecimento. Foram os FILÓSOFOS que deixaram comentários sobre a arte da memória.
metáfora da memória (PLATÃO E ARISTÓTELES): tábua de cera. Nela se escrevia e imprimia coisas.
ARISTÓTELES:
arte da memória se atrelava à sua teoria do conhecimento. Não era possível APRENDER sem o uso de pelo menos um dos sentidos, e a visão dominava sobre os demais. Até o raciocínio especulativo depende de imagens. Aristóteles dizia que o conhecimento partia da experiência. Foi fundamental para o desenvolvimento escolástico da arte da memória. A tradição retórica da memórica, a que pertence a escolástica, se vincula a ele.
PLATÃO:
Existem idéias inatas ou latentes. E aí a memória era mais necessária. Não podia ser uma simples mnemotécnica, mas tinha que ser uma memória artificial com base na realidade, a fim de criar modelos ideais de realidade = "realidades ideais". Foi fundamental para as formas da arte no Renascimento.
PRINCÍPIOS GERAIS DA ARTE DA MEMÓRIA segundo Quintiliano (a arte da memória sobreviveu como parte da arte da retórica até bem pouco tempo):
obs.: meu trabalho: construir um lugar assim da memória
- construir na memória uma série de lugares (lugares mnemônicos). O tipo mais comum é o da arquitetura. Prédios - templos ou palácios. Criar dentro desses lugares espaços como salas e corredores, tanto mais espaçoso e variado melhor. E decorar esses espaços com objetos diversos decorativos e estátuas. Depois de construído o lugar com seus espaços e decoração de interior, a estratégia pra se decorar aquelas palavras e idéias do discurso que se quer decorar é associá-las a imagens fortes que são postas imaginariamente nos espaços memorizados dentro daquele lugar. Pra lembrar o que foi armazenado (os dados/fatos) é só visitar os lugares e seus espaços um por um e recolher a imagem que foi posta ali (deixou de ser um bicho de sete cabeças!).
O orador era aquele construía esses "quartos" de memória na sua cabeça pra lembrar do discurso a ser feito. Ele faz um trajeto com as imagens e palavras/idéia principais que ele tem que percorrer para discursar.
ATENÇÃO: as imagens têm que ser FORTES o bastante para serem lembradas (aí entra o grotesco, pode ser) e ORDENADAS (por números? letras? sinais?).
o lugar de memória também pode ser: um mapa da cidade (com praças, monumentos, ruas, etc.); o trajeto de uma viagem assinalando todas as suas paradas; construções abstratas como um sistema celestial de lugares (modelo criado por Metrodorus de Scepsis); Agostinho "salvou" o que sobrou do sistema educacional clássico
fundamentado nas sete artes liberais - gramática, retórica, dialética, aritmética, geometria, música,
astronomia - quando os oradores entraram em baixa com a idade média e a memória se transferiu da retória para a ética. Os dominicanos (Alberto Magno e Tomás de Aquino) estudam a memória, que é parte da virtude Cardeal Prudência (a qual implica além da memória, inteligência e previdência). Se cria então uma memória artificial que serve pra lembrar os prazeres (céu), promessas de salvação (purgatório) e tormentos (inferno) da alma. Símbolos disso são as obras de Giotto (pintura espiritual) e a Divina Comédia de Dante (sistema). Formaram o imaginário da Idade Média. Recorrer a essa memória passa a ser DEVER MORAL E RELIGIOSO. Não é a toa que eu sempre duvidei de tudo desde pequena!; Ramon Lull cria uma arte da memória da vertente franciscana (ordem mendicante), e é um neoplatônico que não sucumbiu à escolástica em alta do seu tempo, portanto sem origem na tradição retórica (forte nos dominicanos). Suas "dignitates dei" (nomes divinos) está para as "realidades ideais" de Platão. Não está ligado a uma verdade espiritual que reveste as coisas em sua experiência incorporada, mas sim a uma causa primeira, um a priori. Substitui as letras por nomes divinos e através de círculos concêntricos possibilita as mais diversas combinações, a partir de uma "lógica natural" tirada da realidade. Juntou aos nomes divinos o misticismo da cabala judaica em voga na Espanha, e jogou isso tudo na arte da memória, de modo a fazer da arte um instrumento de investigação para uma verdade em que é preciso conhecer as regras da arte. Sua memória artifical é então uma memorização das regras da própria arte; "Giordano Bruno inventou uma memória mágica altamente sistematizada e complexa, um tipo de alquimia da imaginação, onde as imagens dos decanatos do zodíaco se combinavam nas casas com as imagens dos planetas. Como em toda magia, ele assume a existência de leis e forças ocultas regendo o universo. Esta perpespectiva de um universo animista, descrito magicamente por leis mágico-mecânicas, preparou a visão futura do universo descrito matematicamente pelas leis da física".
Erasmo: recomendava o estudo cuidadoso e a repetição. Ainda que não descartasse que a arte da memória na Idade Média pudesse melhorar com lugares e imagens.
A arte da memória perde força entre os humanistas a partir da difusão da imprensa. Mas, na tradição hermético-cabalística de Pico de la Mirandola ela se transforma com Giulio Camillo, no seu teatro da memória, e depois no sistema mágico de Giordano Bruno.
O SISTEMA DE CAMILLO:
era clássico e hermético. Consistia num teatro de madeira onde se colocava dentro tudo que se queria sobre o mundo e a natureza das coisas. Qualquer pessoa podia falar sobre qualquer assunto.
O SISTEMA GIORDANO BRUNO (MEMÓRIA MÁGICA OU ALQUIMIA DA IMAGINAÇÃO)
Fez a síntese da tradição retórica (pois era ex-dominicano) com a tradição hermética-cabalística de Lull (franciscano). Juntou movimentos circulares com combinações de letras.
combinação nas casas: imagens dos decanatos do zodíaco + imagens dos planetas
ROBERT FLUDD:
"rosacruzes". Último bastião do hermetismo renascentista.
Teatro Globo de Shakespeare: um teatro oculto (ocultismo)
NOVA ERA assimilou inesperadamente a arte da memória através de Fludd e outros pensadores de outras áreas como Francis Bacon, Liebniz e Descartes - com esses a arte da memória de Simônides sofreu um grande boom de transformação, e sobreviveu não mais como um "método" de memorização de todo o conhecimento, mas como uma "ferramenta" de investigação (enciclopédica e do mundo) para produzir novos conhecimentos, e assim impulsionar o método científico.
BACON:
Bacon vislumbrou a arte da memória adaptada e atualizada para estudos comparativos nas pesquisas de ciências naturais. Ordem e arranjo tomaram o rumo de uma forma de classificação desses novos conhecimentos naturais. Um método de classificação.
DESCARTES x LULL:
descrê no método de Lull
visa uma nova ciência pra resolver todos os problemas relacionados a quantidade. Lull se baseia na realidade pra criar um método ou arte universal geométrico (a) pra resolver todos os problemas (qualidade)
O uso qualitativo e simbólico dos números vai pras cucuias com Descartes.
LIEBNIZ:
junta arte da memória + lullismo
Na DISSERTATIO DE ARTE COMBINATÓRIA dá sua interpretação do lullismo = lógica natural; e agrega a matematização da arte
***** (PARA USAR NO MEU TRABALHO): Nova methodus discendae docendaeque jurisprudentia. Na linha do Ad Herenius e Aristóteles sugere o uso de imagens "as mais NATURAIS possíveis, pra representar coisas" (DESENHOS ESQUEMÁTICOS, FIGURAS GEOMÉTRICAS como se fossem um alfabeto (vou criar minha própria ordem de formas e significados. Ex. um triângulo = cavalo, e isso tem uma correspondência de sentido num sistema maior total).
Hieróglifos egípcios e ideogramas chineses funcionam como imagem pra ele.
Criou o cálculo infinitesimal (quantitativo). Seu foco era a MATEMÁTICA: uma matemática universal, em que o pensar fosse substituído pelo calcular. Pelo que entendi é como se todo pensamento pudesse ser representado por uma fórmula. Com esse recurso generalizante da matemática a filosofia e a metafísica poderiam se tornar tão argumentativas quanto a geometria e a análise.
MÉTODOS ARTIFICIAIS DE MEMÓRIA EM OUTRAS CIVILIZAÇÕES:
I CHING
LEI DOS CINCO ELEMENTOS (MEDICINA TRADICIONAL CHINESA - lógica natural - classifica a realidade por meio de uma lógica de relações destruição-geração dos elementos)
...
"Questões filosóficas colocam esta ciência na linha cultural levantada pelo trabalho de Yates".
Posso entender isso como sendo por exemplo a construção de cenários para o futuro? A fim de modificar o comportamento dos homens no presente? Uma espécie de previsão previdente? A construção de uma memória do futuro para fins previdentes?
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