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A PERVERSIDADE POR EDGAR ALAN POE
"Em The Imp of the Perverse, Poe figura um quadro moral onde toda ação humana estaria regulada a partir de um princípio, o princípio da perversidade, ou o demônio da perversidade, como sugere o título. Esta perversidade, por sua vez, consistiria em sempre efetivar aquilo que nós não consideramos o certo a fazer, ou seja, uma incontinência permanente. Contudo, The Imp of the Perverse não é realmente um ensaio, e sim um conto. Ele é estruturado em primeira pessoa e pode ser dividido em duas partes. A sua primeira parte, a que chamo de construção do princípio, possui a forma de um solilóquio onde o personagem-narrador analisa as propriedades que constituem o princípio de uma forma reflexiva. A segunda parte, a que chamo de aplicação do princípio, é onde o personagem-narrador que até então edificara o princípio o aplica sobre si mesmo, confessando um homicídio que não deixara suspeito, mas, o que é mais importante de tudo, não querendo fazer isto. É justamente este ato que Poe considera como a perversidade inerente a todo ser humano, a saber, a realização inevitável de um ato que é contrário a sua vontade. Assim, analisarei o conto a partir das suas partes, seguindo a ordem apresentada; primeiro a construção do princípio, passando pela aplicação do princípio e terminando com um posicionamento perante aquilo que foi estabelecido.
A construção do princípio: A abertura do conto demonstra claramente qual o assunto que será discutido: "In the consideration of the faculties and impulses of the prima mobilia of the human soul,.." . Aqui, vemos que Poe está falando da natureza da ação humana, isto é, como se processa a realização de um ato humano; e o primeiro passo para efetuar esta investigação é, justamente, investigar qual é o prima mobilia das nossas ações. O pressuposto necessário para este empreendimento é supor que nós agimos, ou seja, somos causa (esta noção de homem como causa será melhor examinada) de uma alteração real no mundo. Na seqüência do texto, Poe apresenta duas posições que pretenderam apontar o prima mobilia da ação humana. Elas são a frenologia e as teorias morais a priori. A primeira, já estabelecida como uma pseudociência desde a metade do século XIX; é a teoria que pretendia especificar o caráter, a personalidade, emoções e, conseqüentemente, de qual forma uma pessoa agiria, a partir do formato do seu crânio. A segunda, as teorias morais a priori, segundo Poe, são aquelas cujo valor de qualquer ação é pré-determinado a partir da figura de um criador, no caso, Deus. Em outras palavras, Poe via na filosofia prática um aspecto peculiar: 1) Toda criatura criada tem as intenções do seu criador; 2) O criador tem intenções boas; 3) Logo, as criaturas têm intenções boas. Mas Poe vai além: para ele, devido a incognoscibilidade das ações de Deus, a filosofia não poderia tentar estabelecer quais são as intenções divinas sobre os seres humanos, sequer estabelecer que os seres humanos são criaturas. Para Poe, nenhuma delas é satisfatória, pois ambas deixam de lado algo que, segundo ele, "existe de uma forma radical, primitiva e irredutível"; e isto é a perversidade. A frenologia constata a perversidade em nossas ações, mas não consegue estabelecer a sua função. A filosofia prática a priori, devido as suas premissas não fundamentadas, exonera a perversidade do mundo. Se aceitarmos; a natureza da perversidade; tal como ela é apresentada, somos levados a concluir que as duas teorias apresentadas, realmente não atingem seu objetivo. Então, por existir de uma maneira primitiva e irredutível, a perversidade está presente em toda ação humana, e se teorias como a frenologia ou qualquer teoria moral não a evidencia, elas; realmente; sofrem de uma falha irremediável, visto que, elas falham no ponto que pretendiam inicialmente provar, a saber, qual é o prima mobilia da ação humana. Mas quais são os argumentos que Poe apresenta para justificar a existência da perversidade como primeira causa das nossas ações? E, antes, em que consiste exatamente está perversidade?"
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