"Para melhor compreender a aproximação que estamos propondo entre cinema e
educação através de Comenius é preciso lembrar que este autor está imerso em um
ambiente cultural durante o qual, segundo Frances Yatesii, trabalhos sobre Arte da
Memóriaiii se proliferam em todo a Europa. “Orbis Pictus” pode ser visto como um
sistema mnemônicoiv – uma arte que na Renascença emprega conhecimentos da
arquitetura para os lugares da memória e a imaginação para suas imagens e que, ensina
a memorizar valendo-se de uma técnica mediante a qual se imprimem na memória
lugares e imagens.
O cinema, então, assim como o livro de Comenius, coloca as coisas do mundo
numa seqüência de imagens e numa arquitetura de lugares que não servem apenas para a
compreensão da história que está sendo narrada. Este arranjo fílmico é um arranjo
didático, em que o espectador, ao concentrar-se na história, aprende a olhar para o
mundo, criando com as imagens uma visão de mundo, uma visão do mundo, das coisas
do mundo e do que é importante para cada uma das coisas, ou seja, formas de valoração
do mundo.
(...) "
A Estética Épica de Filmagem no Filme “O Triunfo da Vontade” de Leni
Riefenstahl e sua Persistência na Memória Contemporânea
Este estudo é, em suma, uma proposta de investigação sobre a estética de
filmagem, de edição e de montagem do filme “O Triunfo da Vontade” - documentário
sobre o 6° Congresso do Partido Nazista ocorrido na cidade de Nuremberg entre os dias
5 e 10 de setembro de 1934 e dirigido pela cineasta Leni Riefenstahl.
Partindo-se da decupagem fílmica, isto é, do esmiuçamento do filme cena-a-cena
buscando-se compreender os recursos nele utilizados (cortes, planos, posições de
câmera, luzes, filtros, lentes, etc.), procura-se compreender como as escolhas estéticas
da diretora ajudaram-na a construir uma narrativa fílmica que corroborasse com os
anseios nazistas pela unificação de seu povo, sua raça pura, em uma só nação. Buscouse,
assim, compreender como Riefenstahl estetizou a políticaviii, ou seja, como seus
modos de filmar e editar ajudaram o nazismo a arregimentar seguidores e consagrar
suas propostas nacionalistas.
Para tanto, o estudo do filme foca sua atenção na atuação dos emblemas
nacionais, sobretudo no mais representativo delesix: as bandeiras!
Aqui é importante salientar que se fala em atuação destes emblemas porque se
toma aqui o objeto como expressão dos sujeitos, de seus comportamentos e
necessidades e, com isso, se pressupõe sua interação com os demais elementos presentes
na narrativa fílmica - o que, enfim, corrobora em seu desempenho como personagem
cinematográfico".(...)
"
A formação das massas e, principalmente, as milhares de bandeiras que
empunham são vistas, então, como os elementos-chave da cena mais importante de “O
Triunfo da Vontade”. Assim, esclarece-se que o filme está sendo tomado como produto
da escolha da cineasta por uma estética de filmagem que agiganta o nazismo em suas
propriedades como regime totalitárioxii - ou seja, uma estética que auxilia o regime na
alegação, já contida em seus ideais, de que sua organização, seus anseios e suas
vontades abrangerão, no devido tempo, toda a raça humana.
Se, portanto, está se tomando aqui o documentário de Riefenstahl como uma
obra que possui, dentre demais qualidades, o intuito de tornar o nazismo e seus ideais
memoráveis - isto é, que visa abranger a seu tempo a tudo e a todos em vida e memória
- então cabe vasculhar a eficiência destas imagens procurando-se pela persistência das
mesmas na memória contemporânea.
Na busca pelos possíveis elementos que derivariam do “Triunfo” para outras
imagens cinematográficas componentes de nossa memória artificialxiii - dessa nossa
memória derivada dos conteúdos aprendidos por imagens e palavras - pode-se
encontrar por algo mais que um documentário com intuitos propagandísticos: segundo
Rovai, a cineasta “conta uma história que trafega entre o conto de fada e o épico”.
(ROVAI, 2001, p.290)".
terça-feira, 19 de junho de 2007
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