As montanhas de minas. O circuito do Ouro da Estrada Real. O parâmetro para a paisagem turística vem de Santiago de Compostela, na Espanha. As quintas européias servem de modelo para as paradas. Turismo rural. Paisagem de peregrinos. A natureza selvagem para ser aventurada como os primeiros desbravadores da terra em busca do tesouro da Terra Prometida. O Eldorado. As matas virgens paisagens de perigos ferozes e desconhecidos em meio a guerras e emboscadas. Não era bem um paraíso, mas mais um inferno. Entre uma trilha e outra ameaçadora, locais de relativa segurança - pousos - junto a córregos e povoados. Não era assim no tempo ainda de Tiradentes? Ele mesmo fazendo a viagem no lombo de cavalo entre Minas e Rio como um Dom Quixote da Inconfidência, mercador ambulante antes de dentista, muito conhecido nas bodegas do caminho, e boticários. As estalagens de Espanha. Já o caminho novo aberto, as primeiras povoações ao longo do caminho, mas o perigo da doença e o cansaço extremo ainda castigavam o viajante peregrino, que raramente podia se proteger da natureza ríspida do terreno e das tempestades e frio. Os cavaleiros do nosso tempo colonial. Os tropeiros. Em que se parecem com os cavaleiros da Espanha medieval?
Hoje são os peregrinos do ócio que visitam as montanhas, em aventuras místicas. Os jardins do Éden não são mais o quadrado dos palácios e residências nobres, francesas ou inglesas. Pra essas montanhas a gente pode chamar mais a natureza desorganizada dos campos rurais aos olhos do estrangeiro europeu no século XVIII. Essa natureza rústica tinha toda uma semiologia no modo de vida do camponês, mas não para o viajante estrangeiro. Mas, ele também foi educado em seu olhar pra apreciar essa beleza selvagem. E assim também, hoje, o peregrino do ócio - do turismo da estrada real - tem seu olhar educado pra voltar à aventura e contemplação dos primeiros desbravadores e peregrinos. As peregrinações de aventura e as peregrinações místicas recriam esses mundos imaginários pelas trilhas e marcos do caminho. O jardim é a paisagem. Montanhosa. Um lugar já conhecido, mas que se quer fazer estranhar novamente, de outras formas, por outras poéticas imaginárias simbólicas (não mais construções de pedra e cal apenas). São paisagens literárias, deambulações literárias, mais próximas dos mistérios alquímicos das florestas medievais e seus seres fantásticos. As histórias antigas de negros cativos, de assombrações, os causos de viajantes e tropeiros da região se misturando com as lendas e folclore do mundo rural pouco idílico, mais fantástico e assombroso. Mas o jardim é também a paisagem interior, o templo interior que vai em busca de refrigério para os sofrimentos da cidade. O campo aparece de novo como contraponto da cidade. Como lugar de busca e de contemplação. De fuga. É um paraíso de novo, nesse sentido. Uma parada para a alma atormentada pela vida moderna da cidade. E dá-lhe ilusão, governos, aos sofredores do capital.
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