"Notemos que estes "requisitos" representam, no fundo, as condições
prévias - por vezes indispensáveis - para o que se considerava ser o "bom
casamento". Portanto, este jurista não se ficou pelo "louvor do matrimónio" -
nem ficou preso aos argumentos deste137 - mas tentou mostrar algumas vias para
fazer dos casados "bem casados", delimitando, consequentemente, alguns
contornos do modelo.
A importância desta orientação da obra é reforçada pelo facto de outras
obras de meados do século também tenderem a adoptá-la e, portanto, a divulgála.
Assim sucede com a editadíssima Silva de Varia Lección138 que dedicou, na
Segunda Parte, quatro capítulos ao casamento139. Curiosamente, os dois
capítulos centrais ocupam-se, respectivamente, "De qué hedad y de qué gesto y
hazienda deve el hombre buscar y escoger la muger para se casar, y la muger el
marido, según lo escriven los philósophos antiguos"140 e de "Cómo es excellente
cosa el amor y concordia entre marido y muger. Cuéntanse algunos exemplos de
casados que mucho y fielmente se amaron"141. O interesse principal destes
capítulos encontra-se não só na selecção dos aspectos que o autor quis tratar -
nomeadamente o da escolha da mulher e o do amor conjugal -, mas também no
carácter de divulgação que os caracteriza, facto favorecido pelas muitas edições
da obra e pelo eco que dela se encontra em obras posteriores. Mas aqui
interessa-nos acentuar a sua valorização - nomeadamente contra Aristóteles - da
"igualdade das idades" para a "conformidade" dos casados142; do evitar os
casamentos por interesse, de que podiam resultar "los descontentos y malos
casamientos143 - um aspecto em que os autores de finais do século, como
veremos, insistirão -; da mediana formosura da mulher144, e, principalmente, do
"amor y concordia entre marido y muger" que fizeram tantos "bem casados"145.
Deste modo, a transferência progressiva, nas décadas de 30 e 40, dos
louvores do casamento para a elaboração e divulgação do modelo dos "bem
casados" pode ainda ser confirmado com outros textos que, além disso, abriram
vias que os tempos pós-Trento não deixaram de explorar.
Um deles é o extenso e muito editado Espejo de Consolación de Tristes
(1ª ed. 1546146) do franciscano Juan de Dueñas".
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário