sexta-feira, 8 de junho de 2007

jardins no Brasil

"O Museu da História Natural do Cerrado do Jardim Botânico de Brasília abriga jardins que expressam com maior ênfase a relação entre o brasileiro e os espaços naturais que cercam as residências. JARDIM RENASCENTISTA Na Renascença, o jardim ganhou a compreensão de conjunto, como parte da arquitetura. Na Itália, a arte botânica era mesclada ao pensamento humanístico, com uma natureza organizada de forma racional e espaços para descanso, diálogo, apreciação e coleções. A necessidade de isolamento meditativo do homem em seu espaço gerou a simetria nas formas e os labirintos onde o desenho das topiarias e as espécies divididas em blocos ditavam os projetos. Muitos dos caminhos desta época foram ditados por especialistas como Bramante, desenhista dos jardins do Belvedere, em Roma. Um bom exemplo é a inglaterra do século XVIII, quando grandes nomes do paisagismo renascentista como William Kent (autor dos jardins Chiswich) deram início a um movimento em busca do espaço perfeito, reproduzido depois da Espanha à Rússia em palácios e paços. Outros pintores e arquitetos trabalharam em um esquema de polivalência. Foi um período em que grandes praças e palácios receberam os primeiros pesquisadores do paisagismo europeu, alguns dos quais chegavam a planejar o desenho dos vitrais das edificações com base nas colorações presentes na área externa. Criou-se, desta forma, o macropaisagismo. O homem não mais protegia sua moradia com bosques formados por densas árvores, mas ornava o espaço de entrada com caminhos definidos por formatos e densidades diferenciadas. O jardim no estilo Clássico ou formal é facilmente reconhecível, pois tem um equilíbrio rígido e formal, um desenho geométrico, e usa bastante a topiaria como elemento decorativo de suas sebes e cercas vivas, se caracteriza por apresentar linhas, círculos, retângulos, triângulos e semi-circulos, combinam-se para compor uma paisagem desenhada com régua e compasso. No Brasil, todos os traços da renascença chegaram com as primeiras famílias, que projetaram para a área externa das residências recantos, esculturas e formatos simétricos também. Foi esta a primeira expressão de paisagismo formal. Eram jardins romanticos, como o próprio nome determina, uma soma dos reflexos da cultura greco-romana e seu desenho estruturado e da influência das artes como característica renascentista. Aqui, o Jardim Renascentista é recriado por meio de um labirinto que vai revelando pequenos detalhes que reavivam o conceito de composição plástica. JARDIM COLONIAL Este segundo tipo de jardim marcou intensamente a paisagem brasileira. Ao derivar dos primeiros jardins formais criados durante a colonização, a expressão criativa ganhou voz por meio da cultura de cada região, somada a costumes dos povos e também dos índios. Em pouco tempo, espaços como as casas de farinha presentes nas aldeias faziam parte das necessidades rurais e seus apetrechos como pás, rodas e carrinhos eram reaproveitados como elemento decorativos. Nas casas caboclas, plantas medicinais e frutíferas como o alecrim e a romã ganharam discretamente novo status pela beleza e delicadeza das formas e por sua utilização, compartilhando recantos com rosas, trepadeiras e outras, cujas espécies originais vinham de residências imperiais ou palácios. Nestes tempos, uma direção eclética já esboçava o sentido de pluralidade cultural do brasileiro. No jardim da casa cabocla convivem objetos e plantas, gerando aos poucos o quintal e a horta com seus instrumentos de trabalho, balanços, moendas e outros elementos da pequena propriedade. As cercas são de madeira. Muitas vezes estas peças rústicas são combinadas com plantas de delicada textura e cor, a fim de se somarem num efeito de um romantismo despojado. A utilização do barro nas edificações amplia a relação com a terra. Jardim Botânico de Brasília, taipa e adobe, imagens caboclas e plantas que atraem pássaros e dispersam aromas recriam o jardim caipira, com um tipo de vida traduzido no trabalho do fotógrafo Luiz Clementino. JARDIM MODERNO Um exercício de disciplina aplicada à forma, do estudo dos volumes, uma certa assimetria calculada e aliada às necessidades humanas deu origem ao jardim moderno, cujo precursor no Brasil foi Roberto Burle Marx. Sua formação edurita o levou à Alemanha, onde estudou pintura; seu interesse por paisgismo ganhou contornos especiais durante visitas ao Jardim Botânico de Berlim, onde teve maior contato com a flora brasileira, apresentada em grandes estufas. Em meados do século passado, já de volta ao Brasil, fixou residência no Rio de Janeiro, adquirindo um sitio no qual manteve de forma soberba coleções de plantas nativas e exóticas. Passou a pesquisar intensamente as espécies e a relação entre elas e o ambiente. Soube reconhecer e interpretar o valor da flora brasileira e criou os primeiros espaços verdes denominados modernos no Brasil. Desenhista, pintor, ceramista, escultor e pesquisador das artes, agregava aos conceitos de espaço as necessidades humanas. Com Burle Marx, o espaço verde e sua função aparecem como resultado de uma percepção do todo. Expressos em desenhos paisagísticos solicitados por grandes nomes como Gregori Warchaychik e Lúcio Costa, distribuíam com genialidade elementos de volume, coleções, pavimentação, arte, espaço aberto e concentração humana. O próprio artista, em referência à sua obra, destacava o valor da previsibilidade calcada na intuição. Influenciados por seus projetos (cujo traço original se mantém de forma marcante nos jardins monumentais de Brasília, no Parque Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro e no Parque do Ibirapuera, em São Paulo) arquitetos brasileiros passaram a perceber a edificação como parte da paisagem, cumprindo a função de valorizar linhas, respeitando a mobilidade dos que desfrutam do espaço no qual se circula. Por outro lado, reunir coleções de plantas que se adaptam ao ambiente de maneira interdependente também se tornou uma obsessão dos paisagistas modernos. Essa abrangência pode significar reproduzir uma atmosfera de mata ou utilizar de modo apropriado esculturas e a luz, com a abertura de novos mundos de significado estético. A experiência do jardim moderno distribui os elementos criando quase que um repertório que se concentra no essencial, dando destaque a alguns pontos, em um jogo completo dos fatores do clima, do solo e da própria interação entre todos os elementos vivos e as plantas entre si. A proposta mais importante dos jardins modernos é a de respeito às exigências ecológica e estética, gerando espaços de fácil manutenção e efeito contemplativo ideal que, ainda assim, caibam na praticidade exigida pela realidade. É a identidade do jardim em equilíbrio com os elementos dos quais se compõe. Uma escultura central de Burle Marx destaca a importância da sua obra no Jardim Moderno criado no Jardim Botânico de Brasília. A pavimentação que utiliza blocos de concreto em um desenho de abordagem artística se distribui de forma a permitir a apreciação e o desfrutar das inclinações da luz sobre cada elemento".

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