"A nova inclinação pela natureza selvagem não era, portanto, uma vitória da intuição. Tal como a apreciação do jardim paisagístico inglês do início do século XVIII requeria uma educação clássica e algum conhecimento de história e literatura, necessários para se captar todas as referências a Horácio e Virgílio ou as alusões a Poussin e Claude Lorrain, também a atração pela natureza sem a mão humana surgiu como algo sofisticado, refletindo a aspiração altamente literária e intelectual presente nas novas sensibilidades. É verdade que a maior parte das pessoas, ainda que não educadas, desde tempos imemoriais se sentia atraída espontaneamente por amplas vistas e perspectivas abertas. John Constable seguramente tinha razão ao dizer: "jamais houve uma época, por mais rude e inculta, em que o amor à paisagem não se tenha manifestado de alguma forma" (45). Mas a apreciação consciente do cenário rural que se desenvolveu de modo tão espetacular durante o século XVIII foi algo diferente, pois dependia do conhecimento prévio da tradição pictórica européia. O atrativo primeiro do cenário campestre era que ele lembrava ao espectador as pinturas paisagísticas. Na realidade, a cena somente era chamada de "paisagem" [Iandscape], por recordar uma vista [landskip] pintada; era pitoresca porque se parecia com uma pintura. A circulação da arte topográfica, na qual ou não havia figuras humanas ou não tinham importância, precedeu portanto a apreciação das paisagens rurais e determinou a forma que esta assumiu.. (46) Quando Edward Waterhouse louvou o campo inglês em 1663, disse que esse contava com "suavidade de situação em suas vistas, possuindo matas, rios, nascentes e prados entretecidos"; e quando Celia Fiennes visitou Epsom, trinta anos depois, salientou que a perspectiva mostrava "o campo como vistas, [com] matas, planícies, cercados e grandes lagos". Outros admiravam o cenário montanhês britânico por verem nele uma vaga aproximação com os bizarros fundos de rocha da pintura da última fase medieval, ou com as paisagens selvagens de Salvator Rosa. Dificilmente se poderia negar que as montanhas eram "algo agradável de se contemplar", afirmava John Ray, quando "as próprias imagens delas, seus desenhos e vistas são de tal forma estimados".
PINTURAS DE "VISTA"
sábado, 9 de junho de 2007
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