domingo, 17 de junho de 2007

"Os anti-monumentos projetados e em parte executados na Alemanha (muitos deles em colaboração com Andreas Knitz) são tantas tentativas de fixar o alo emocional de uma perda: a fonte invertida e fincada no chão de Kassel, negativo exato e oco da fonte destruída; a placa aquecida e semi-escondida na grama de Auschwitz, onde existiu por um breve período um precário obelisco comemorativo; a projetada demolição expiatória da porta de Bradenburgo; e assim por diante. Nessa mesma ótica de desaparecimento e rememoração é preciso ler os desenhos de Horst Hoheisel. Inicialmente, desempenharam uma função quase terapêutica: marcar no papel, todo dia, antes de começar a trabalhar, lembranças, ou sombras de lembranças quase ininteligíveis, resíduos de sonhos da noite anterior, impressões fugidias impossíveis de se explicitar claramente. Organizados em cadernos ou em grandes rolos de papel, datados um por um, formam séries aparentemente desconjuntadas, mas que na verdade rodam em volta de motivos que é possível identificar, por recorrência, analogia e semelhança. Mais do que o caderno, o rolo talvez seja a imagem perfeita da relação que cada desenho entretém com o conjunto. Devido a sua grande extensão, é impossível desenrolá-lo por inteiro. O que se vê é sempre uma porção, um segmento bastante reduzido de uma configuração complexa, cuja maior parte permanece enterrada nos dois cilindros imponentes que cercam a área de papel aberta. Esses rolos são eles próprios um signo – figuras tão enigmáticas quanto os desenhos que carregam".

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