sábado, 19 de maio de 2007

visite Ouro Preto
"As cidades de Calvino podem ser entendidas como reflexos provenientes diretamente da memória e se apresentam como a materialidade de uma sensação que é por si mesma fugaz. Mesmo assim, o homem sente o desejo de uma cidade , 29 sente a necessidade da memória. Muito mais pelo reflexo e inscrição das suas próprias sensações e vontades nesse passado, a própria cidade de Isidora carrega em si os sentidos que são aguçados e que promovem o recurso à memória. Essa variedade de sentidos explicita um caráter polissêmico, isto é, a memória pode ser apreendida não apenas pela diversidade de significados ao quais ela pode se reportar, mas aos signos que gerarão essas referências. Tanto os signos simbólicos (palavras orais e escritas) quantos os signos icônicos (imagens desenhadas ou esculpidas) e, mesmo os signos indiciais (marcas corporais, por exemplo), podem servir de suporte para a construção da memória. 30
Assim teremos, para a cidade de Isidora vários desses elementos como o tato obtido nos incrustados caracóis marinhos nas escadas do palácio, a visão dos binóculos perfeitos, a audição dos violinos, além de outras sensações como o prazer obtido por meio das mulheres, ou o ódio canalizado nas sanguinolentas brigas de galo/apostadores. Percebe-se aqui o forte apelo sensitivo de que se vale a memória, porque é através desse apelo que se concretiza a lembrança".

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A literatura utópica descreve um equilíbrio geral das coisas sem qualquer explicação histórica ou demonstrativa de como a progressão dos valores sociais criou uma sociedade perfeita. No entanto essa impropriedade cronológica de desenvolvimento parece ser justificada pela própria escolha da localização geográfica: na representação mítica de várias culturas, a ilha é um mundo em miniatura, completo e perfeito porque possui um valor concentrado, além de ser tomada, também, como a representação do paraíso terreno. A sociedade utópica, portanto, por estar fundamentada no ideal, não escapa de permanecer situada num para-lugar e na descontinuidade histórica, como o é a cidade de Platão ou as ilhas de Thomas More e de Francis Bacon".

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