domingo, 20 de maio de 2007

Nós somos históricos. Nós somos responsáveis. Não é tolerável a conivência ativa ou passiva com crimes contra a humanidade. O depoimento da sobrevivente do bunk de Munique no final do filme Os Últimos Dias de Hitler sentencia a consciência de toda a coletividade, e de cada pessoa individualmente, a se retratar moralmente perante à humanidade e, especialmente, frente às vítimas do nazismo, que sofreram com o holocausto e as demais perseguições. Serve de alerta contra o delírio social que se instala no meio de nós. E que de um jeito ou de outro deixamos que ele se instale ao não darmos um basta nele. E para isso não há perdão; mas, há a possibilidade de tomada de consciência do erro e, com isso, a possibilidade de mudança. E assim a voz testemunha alerta as gerações futuras a escreverem uma história diferente de um evento que já é documentado, e mostra bem a sua face de razão distorcida. E mostra como é tênue essa linha entre o bem e o mal. Um testemunho que faz questionar cada lugar que a gente ocupa na sociedade e papel que desenvolve frente não só aos regimes totalitários, mas qualquer tipo de regime consentido que nos indigne se ultrapassamos uma distância intolerável entre a prática e a lei. Precisamos de parâmetros, precisamos de regras, precisamos de normas, precisamos de moral, precisamos de princípios de bem e de prudência que nos norteiem, precisamos de um denominador comum que nos permita ser e tolerar o outro em sua diferença, na medida exata em que aprendemos com isso e nos tornamos melhores.
Fica a dúvida. Fico meio arretada com esse discurso moralista dos direitos humanos, visando purgar a consciência do mundo contra os líderes e os indivíduos das sociedades que sucumbem aos extermínios coletivos de etnias em nome dessa ou daquela ideologia. Um discurso que passa pela legitimação de organismos internacionais de controle nos assuntos que dizem respeito à humanidade e parâmetros de justiça. É claro que com todas as falhas que sabemos das democracias, ainda assim é um norte em que mirarmos com nossos valores civilizacionais. Agora, se é aberrante um acontecimento dessa natureza, quantos fatos aberrantes não temos que ignorar por culpa do sistema capitalista no seu modelo contemporâneo que mata, isola e aliena impunemente, sem dar direito de visibilidade àqueles incontáveis anônimos que morrem de fome, de guerra, de abandono, de violência doméstica, de bala perdida, de acidente no trânsito, etc., diante dos quais caímos naquela mesma armadilha de conivência, apatia e conformismo, acostumados à essa tragédia próxima e cotidiana?

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