domingo, 20 de maio de 2007

DIRIGENTES




Os Últimos Dias de Hitler







"Em suas últimas horas de vida, o ditador se despediu de toda a equipe médica, antes de se suicidar no dia 30 de abril de 1945. "Saiu de um quarto lateral, nos estendeu a mão, disse algumas palavras amistosas e isso foi tudo", contou Erna. Ela nunca chegou a ver o cadáver de Hitler. Soube que ele havia morrido ao ver no bunker mais médicos do que o normal. O corpo do ditador foi levado ao jardim da Chancelaria e incinerado". Quantos anos ficamos preocupados com isso! E se Elvis is alive! POP é um fenômeno. Pop é fama. Pop é fantasia. Pop é ilusão! POP é um barato! Fenômenos de mass media! Imagens da realidade que vazam pra arte. E que se popularizam. Perdem seu contexto original. Se esvaziam de significado. Banalizam.






































"... pinturas com retratos dos principais dirigentes nazistas. Estes quadros, apreendidos pelos Aliados, foram mostrados ao público décadas após o final da guerra. A câmera, lentamente e em um único plano, vai filmando os retratos dentro do quarto. O narrador, com a mesma voz desapaixonada que empregara durante todo o filme, conclui que, na verdade, o Nazismo não tinha objetivos políticos mas sim estéticos: e, em nome desta visão estética do mundo, foram eliminadas pessoas inocentes que não se enquadravam no ideal de “beleza” nazista. Na verdade, conclui Arquitetura da destruição, não foram os inimigos do regime nazista os eliminados, mas sim civis inocentes assassinados por forças militares". Os médicos ... prestigiados médicos! Tudo pela ciência! E o que governa a ciência? Qual ideologia?












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"A filosofia do direito, nesse sentido, cumpre um papel de pensar aquilo que, em suas preocupações imediatistas, as ciências especializadas do direito não têm como prioridade conhecer, e, exatamente por isso, na dilatada compreensão de um horizonte amplo de análise, é capaz de exercer uma função de orientação, análise e crítica, contribuindo para o próprio direcionamento do conhecimento produzido pela ciência do direito. Não deve ela estar vigilante da interação entre o fazer do direito e o pensar o direito? Não cumpre a ela proceder à avaliação daquilo que se pensa sobre o direito para que seja transformado em prática social? Portanto, não cumpre a ela a tarefa de, criticamente, avaliar os processos de transformação de idéias em leis, de conceitos científicos em fundamentos de decisões jurisprudenciais, de valores majoritários em paradigmas de ação social? “
César Louis Lilary do
Blog Filosofia Moral e Política tem um artigo recentemente publicado na Revista de Sociologia e Política do IUPERJ, cujas reflexões formalizadas resultaram de algumas pesquisas que desenvolve em Filosofia do Direito e Teoria do Conhecimento. Ele acrescenta que o público interessado em psicanálise também encontrará proveito com a leitura. No artigo defende que existem duas atitudes teóricas básicas, as da alucinação e as do delírio".












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"O IMAGINÁRIO COLETIVO: Se partirmos da premissa que o poder monopoliza emblemas, passando pelo imaginário coletivo e que não há poder que não faça uso desse imaginário [5], poderemos pensar também que um caminho para isso é a propaganda e então é importante destacar o uso da imagem [6] e símbolos [7]. Um tecido de imagens que surgem para desviar a atenção da realidade, ou que serve para nos dar compensações ilusórias para as desgraças de nossas vidas ou de nossa sociedade, é um imaginário de explicações feitas e acabadas, justificado do mundo tal como ele parece ser [8].O imaginário faz parte da luta social, dependendo do momento em que é utilizado; quando isso acontece estabelece-se uma ideologia e é por meio dela que as opiniões e idéias da classe dominante, impões-se como ponto de vista de toda a sociedade".






LENI RIEFENSTAHL





A Leni não chegou num momento qualquer no partido nazista. O Hitler já tinha tirado de campo todos os inimigos do caminho - os social-democratas e socialistas da esquerda alemã, além dos rebeldes da SA - e contava com uma máquina do estado, por meio do Ministério da Propaganda da República de Weimeir, pra financiar e apoiar seus planos propagandísticos. Ele investiu então na cineasta, que foi convidada por ele pra cuidar da construção de sua imagem como um vencedor. Ela daria um toque de profissionalismo e talento nos documentários a serem produzidos dali pra frente. A ocasião ideal pra que ela cumprisse a sua missão foi vislumbrada para uma reunião do partido nazista, em 1934, em Nuremberg, quando Hitler via a situação ideal pra se apresentar como o único e soberano dirigente do partido nazista e, não só do partido nazista, mas também da nação. Foi ela que fez esse serviçinho, muito bem feito, por sinal!


O DOCUMENTÁRIO

Linha: documentário verdade

12 cenas: disciplina, ordem, raça

paradigmas cristãos: messias (Salvador: evangelhos e apocalipse) e herói (Ziegfried e os 1000 nibelungos)

Estádio lotado, duas fileiras de milícias: alusão à passagem de Moisés sobre o Mar Vermelho à frente do povo escolhido em direção à Terra Prometida.

Ao fazer o documentário Leni é responsável pelos devires de sua intervenção? Sim, pra mim sim. Até que ponto ela estava ali só desempenhando um papel de artista como ela mesma se declara em entrevista, alegando não ter ligações com o partido nazista? Primeiro eu acho um absurdo ela dizer isso. Seu depoimento é de um desconhecimento ou insensibilidade total de seu papel enquanto artista ali. Só mostra a alienação ou má fé em relação aos comprometimentos éticos que implicam uma intervenção artística, ainda mais à frente das imagens que se referem a um estadista. No meu entender ela pode até não ter tido ligações formais com o partido político nazista, mas não poderia aceitar uma missão de gerar imagens para um governo com intenções bem programadas sem estar de antemão disposta e consciente dos riscos que sua intervenção poderia acarretar tanto para o bem quanto para o mal. Não há espaço para uma defesa de ingenuidade ou desconhecimento do que o regime se tornaria. Não para um artista, cientista, político que tenha qualquer missão a desempenhar num momento político, ainda mais em pleno governo. Acho que não tem como isentar qualquer ator de responsabilidade quando ele intervém numa cena política. Independente se era sua vontade ou não, se estava consciente ou não dos riscos da sua intervenção. Pra mim cabe responsabilização em qualquer devir que advenha da sua obra ou ação. Porque sua intervenção consentida é sempre política, sobretudo em cenários de governo. "Entrei de gaiato no navio", como ouvi ontem o deputado falar na tv não cola. O certo era ele ter vergonha. E nem ter sido deputado. É por isso que Brasília tá essa excrescência. As moscas são bem vindas!

O artista não tem controle sobre o que vai se tornar sua obra. É vero. E é isso que torna de uma sutileza e gravidade magistral uma intervenção. A estética imagética em certos contextos pode funcionar como poderoso mecanismo legitimador de ideologias, ainda que seu realizador não tenha pretendido isso. Pode ser um catalisador de ações em torno dessa ideologia. Então pra mim não há direito de inocência nessas imagens. Elas são mesmo potencialmente agentes. O artista deve estar muito consciente das possibilidades que devem gerar suas imagens ou arcar com as conseqüências. Não há como fazer imagens de grandiloqûencia como essas sem ter consciëncia da força da produção de significados que ela gera. Não há como se isentar de responsabilidade sob a alegação de que "minha intenção foi só artística". É nessas horas que um "mea culpa" tipo o que foi documentado para o filme "A QUEDA" faz todo o sentido, e diferença!

Hehehehehe, minhas frases:

"De boas intenções o inferno está cheio"

"Não tem reco reco ... ajoelhou tem que rezar"

"Entrei de gaiato no navio. Entrei ... entrei ... entrei pelo cano ..."

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Outra coisa, se o Hitler chamou essa mulher, não era só porque confiava nela, é porque sabia bem quem ela era. Ou ela era uma idiota sem fim que não sabia nem onde tava o nariz dela. O que não é provável com o poder das suas imagens. Ou ela era bem espertinha e sabia bem onde estava se metendo, e foi muito da laia do sujeito lá pra querer se safar dessa! Políticos do Brasil se precisarem de uma aulinha é só chamar dona Leni!

- Se bem que vocês já põem ela no chinelo!

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Hitler não dava um passo sem recorrer à carga simbólica no seu programa de poder. Ele se utilizou da carga simbólica das cidades que representavam os centros de poder político da monarquia em períodos significativos do poder imperial alemão, durante a idade média e no final da primeira guerra mundial. Assim, fez sua aparição bem encenada na cidade de Potsdam, na ocasião da celebração da reeleição do marechal para o executivo de Weimer. O general tinha sido um sobrevivente da queda do II Reich, quando Potsdam era tida como o centro da monarquia prussiana. Aparecendo ao lado dessa relíquia que era o marechal-imperador, naquele cenário de poder monárquico - e espetacularmente trajado de cartola e casaca -, Hitler queria atrelar a si essa imagem de centralidade e soberania. Mais uma vez, mas agora voltando sua atenção para a cidade de Nuremberg buscou apropriar-se de seus símbolos. Em 1943 houve a publicação da obra "Crônicas do Mundo", que foi magistralmente editada por Hartmann, com a colaboração de Dürher, ilustre gravurista, e então um dos maiores artistas da Alemanha. Hitler elegeu uma ilustração de Dürher, - "O Cavaleiro Solitário" - como ícone de seus soldados da SS e SA. Também

Nuremberg tinha sido referida por Felipe II, como a capital imperial medieval por sua expressiva centralidade na cultura alemã. O castelo imperial foi o palco para a assinatura dos tratados complementares para se chegar à Paz de Westfália, que poria fim à guerra dos trinta anos. Dos arredores desse castelo também teriam saído os trilhos da primeira estrada de ferro alemã. Nuremberg também tinha sido homenageada por Wagner numa de suas óperas e, essa homenagem feita pelo maior compositor da música alemã à uma cidade que era o centro do imaginário alemão como Nuremberg não foi esquecida por Hitler.

À nobreza prussiana velha ficava reservada Postdam. Berlim permaneceria como Sede do II Reich. Enquanto que Nuremberg - a antiga capital imperial medieval - foi feita Sede Simbólica do III Reich, e pra lá Hitler se dirigiu com suas tropas SS e SA pra fazer a ocupação pacífica. Ele se colocava como revolucionário conservador que iria restaurar a águia imperial germânica, como símbolo para a recuperar os territórios perdidos da Alemanhã em 1918. Ele era o comandante da insurreição parda que se apropriava dos símbolos do passado para projetá-los no futuro.

Construções gigantes construídas serviram de concentração para os nazistas em Nuremberg.

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A ideologia legitimadora do genocídio é ela também de tipo moderno, pseudo-científico, biológico, antropométrico, eugenista. A utilização obsessiva de fórmulas pseudo-medicinais é característica do discurso anti-semita dos dirigentes nazistas, o que pode ser notado nas conversações privadas deles. Numa carta a Himmler em 1942, Adolf Hitler insistia: “A batalha na qual nós estamos engajados hoje é do mesmo tipo que a batalha liderada, no século passado, por Pasteur e Koch. Quantas doenças não tiveram sua origem no vírus judeu... Nós não encontraremos nossa saúde sem eliminar os judeus”[11].













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DE 1945 a 2007

EM POLÍTICA NADA É POR ACASO
AINDA MAIS PARA AS ELITES MAIS CONSERVADORAS DA SOCIEDADE
































Bush: apagando as suspeitas sobre o pai


Ratzinger, o seminarista não quis lutar. Amem.









Os EUA e seus símbolos patrióticos. Suas fardas e bandeiras. Seu heroísmo. A guerra em nome da liberdade a todo o custo. DEMOCRACIA?









E nos cinemas hoje tá passando HOMEM ARANHA! O super-herói aracnídeo. O pior inimigo é ele mesmo. Sua sombra.









O seminarista e seu sonho de se tornar papa um dia. A maior autoridade espiritual na face da Terra. O poder político legítimo e supremo da salvação das almas cristãs em nome da submissão à vontade do PAI eterno. Seja o que Deus quiser. Assim será, Amém. Glória ao DEUS PAI todo poderoso, criador do céu e da terra. E ao seu filho, que foi na cruz crucificado, por todos nós, pecadores. A quem devemos o perdão. Hitler repugnava justamente a misericórdia do pai eterno, a que considerava como pusilânimidade, covardia. A religião cristã é tida como a religião dos pobres e oprimidos. Dos fracos. Ranço que ficou desde a queda do império romano, no período de sua conversão. Imagem reforçada depois da baixa Idade Média com o discurso católico da piedade e da crucificação, carregando a ideologia do sofrimento e justificando o bom destino do homem pobre que teria o reino dos céus garantido após a morte. A salvação lá é que vale. O que tem aqui na terra é passageiro. A demonização de Hitler também não é nada por acaso. Agora sem querer absolvê-lo, que ele se mira em valores louváveis da antigüidade isso ele se mira. Descalibradamente, mas se mira. Como o sentido de potência a que Nietsczhe se referia ao falar dos gregos e seu espírito de bravura. Uma compreensão do corpo e de sua efemeridade que a única coisa que podia compensar o tempo era a honra. Os feitos heróicos. A moral. E como a política estava ligada a essa moral. De qualquer forma mais um ideal de perfeição, mais uma utopia essa REPÚBLICA! E um desvario, devaneio, uma ilusão esses ideais de perfeição que passam pela eugenia, pela excelência e purificação das raças, pelos critérios de verdade, pelas provas científicas, pelo domínio da razão e pela legitimação de tudo que lhe diga respeito como critério de verdade e de bem. Como desconfiar da ciência? Como não se encantar com seu poder? Como dizer um basta às suas ilusões? Como decidir o que é ético e o que não é, quando o que é ético pressupõe o político e o que pressupõe o político sempre pressupõe um outro?

















Iraque
U$

















Vida? Hoje vi uma pomba morta no paralelepípedo da minha rua. Vi aquele pescoço dobrado sem vida e me senti estúpida, inútil, ignorante em perguntar o que significa isso. Mais incrivelmente, eu não consegui olhar praquela cena. Ou me senti ridícula por sentir isso por um animal? Amo as pombas. Elas vivem transitando no meu caminho. Vivem passando por mim no passeio. São parte do meu cotidiano, como não vou sentir por aquela pombinha no paralelepípedo da minha rua? Fiquei sim triste. Muito triste. Mas, passou. Fui pro shopping.









Quando eu consigo olhar pra uma imagem dessas aí em cima me assusto. Quer dizer que já me acostumei. Ao mesmo tempo posso olhar para ela porque ela é longe de mim de alguma forma. Não é a mesma coisa que aquela pomba que eu vi hoje na minha rua, e que sem ser nada minha, nem parente, não consegui sequer olhar. As distâncias em que nos colocam as imagens que dizem ser de comunicação! São imagens distantes. Enquanto não nos afetam - não nos sentimos próximos deles por afeto - os outros não nos nos dizem respeito. Em contraposição quase morremos de compaixão quando um ator global muito querido morre. E assim convivemos com guerras. E assim achamos que estamos fazendo algum bem, ou que estamos politicamente corretos se defendemos uma causa passada como a segunda guerra mundial, um standart no nosso imaginário, que mais paralisa do que mobiliza pra tomadas de consciência em situações críticas da atualidade. E no meu imaginário ainda é a segunda guerra - uma coisa do passado - que é ainda mais forte do que a guerra que foi notícia hoje, seja ela o iraque, seja ela a guerra civil no Rio de Janeiro como emblema. Insensível. As distâncias me automatizam. A divisão social do trabalho e a falta de me sentir útil distanciam. E quando acontece alguma tragédia com a gente por nosso desgoverno sistêmico, pode ser que vire alguma notícia, e tenhamos algum alívio, ou sentido de justiça. E na falta dessa, o que vai nos consolar é alguma solidariedade. E enquanto acontece com eles, a gente só reza pra não acontecer com a gente.







Um arsenal de signos americanos







Ex.combatentes de guerra fazem HQ com temas militares. Algum comentário? As imagens por si só nunca são santas ou pecadoras? Ou são as nossas leituras que as transformam e legitimam?





http://www.comunidadesegura.org/?q=pt/node/32751





Alguns discursos possíveis





O capitalismo que produz as extremas diferenças sociais. Que demoniza o que não pode ser incorporado ao sistema criando leis protecionistas, impedindo a entrada de imigrantes no país, não assinando o mínimo tratado de responsabilidade ambiental como o de Quioto, permitindo que os soldados continuem se reproduzindo e morrendo na glória da guerra da justiça contra o mal. Contraditório ideal de liberdade que faculta a execução da pena de morte aos estados, ao mesmo tempo que reproduz uma praxis que legitima a construção de identidades criminosas hediondas. É a lógica da exclusão que cria seus próprios demônios. E a cada vez que o abismo econômico e social aumenta, mais as distorções aparecem. Delírios de grandeza se encontram no alto das torres de arranhas-céus, e nas mentes anti-sociais que não tiveram acesso aos altos valores e méritos do sistema. Psicopatias que vão parar nas escolas e supermercados/lojas de conveniência: símbolos dos masters júniores, seniores e catedráticos e da gula por supérfluos que nascem da ansiedade ou da ociosidade burguesa. Alto ônus ético que se paga pra usar como cobaias as vítimas da miséria e da desigualdade social pra criar mercado pra suas drogas salvadoras do mundo. Como se o desvario de poder econômico e tecnológico não fossem por si só a pior das doenças contagiosas e epidêmicas. Ideologias da eternidade, ou cruzadas, que pregam o dinheiro e o ócio, como os primeiros cristãos pregaram a cruz e a espada. Por essas e outras se diz que o capitalismo é o auge do cristianismo. Só muda o Deus: um reza pro Deus espiritual, legitimando a submissão e a pobreza, méritos pra se chegar à salvação - "é mais fácil um camelo passar por uma agulha, do que um rico entrar no reino dos céus"; o outro reza pro Deus material, o dinheiro, que compra tudo até a alma. E no meio disto está a confusão que se criou entre humanismo e a humanidade, com os universalismos! Na sociedade sem futuro (leia-se sem utopia) não faz diferença entre homens e máquinas desde que a morte seja controlada. E é a ciência que legitima os valores dessa sociedade. É por isso que é preciso pôr um freio nessa crença.





O que acontece se nos voltamos hoje para um estado, o menor do mundo em extensão territorial, porém possuidor do maior patrimônio artístico-cultural da história ocidental? O que acontece se buscamos nas imagens produzidas naquele tempo histórico do Renascimento uma certa herança do humanismo?





Eu aqui rebatendo uns pontos com meus botões:





Utopia nada mais é do que uma promessa de futuro. Uma idealização de um mundo perfeito em que somos todos felizes. Ela vem sempre acompanhada de uma cara de vanguarda, algo novo, que nunca foi visto antes, e que vai mudar o destino pra melhor. Pra um novo tempo de esperança e renascimento. Só que as vanguardas são burras, e já nascem velhas, porque nascem no seio das contradições de sua época. Abrem caminho pra sedimentar lá na frente o status quo das camadas sociais emergentes.





a arte de vanguarda desde que se inscreveu na modernidade sempre foi e sempre será o maior instrumento de consolidação do status quo de uma elite sócio-econômica emergente que queira se legitimar no esquema de hegemonia do poder. Gramsci.





Os vanguardistas europeus jogavam pedra na tradição, mas tinham muito de tradição nesse modernismo que pregavam. Eram filhos da elite aristocrática e burocrática, sem deixar de - ao se tornarem artistas consagrados - mamar nos privilégios das próprias camadas emergentes da sociedade: a burguesia, à época. Que em troca do poder econômico negociou a cultura "culta" de boas maneiras e status quo que tinha a aristocracia, e se incorporou aos velhos valores rechaçados chamando-os de novos ... é pura conveniência e hipocrisia, ser moderno é já nascer velho, e a modernidade traz a marca dessa contradição ... São os filhos rebeledes que contestam o poder estabelecido, e vão fundar uma nova "Atlântida", sem terem onde se mirarem a não ser nas imagens dos próprios pais, aparecendo como salvadores da pátria por uma falsa promessa ... uma utopia ... "somos como nossos pais"





Modernismo é um movimento que se inscreve dentro da modernidade. Ou seja, a modernidade forma um escopo muito maior em termos de anterioridade histórica, e um conjunto de ideais elaborados em seu bojo, que a tornam uma totalidade, que é mais complexa do que as circunstâncias mais restritas em que se nomeia o modernismo.





Portanto, a modernidade pode ser entendida como uma época histórica, que teve data marcada lá por volta do século XIV, em que as primeiras idéias seculares colocaram o homem como o centro do universo, e começaram a aparecer as primeiras condições propícias para o aparecimento de uma classe emergente: a burguesia. A modernidade compreende um conjunto de ideais que foram sendo forjados ao longo do tempo, desde o ideal de Estado Moderno ao longo do Renascimento, a que se seguiu no século XVIII o apogeu do projeto enciclopedista semeado pelo iluminismo, sendo coroado mais adiante coroado pela crença no progresso positivo da ciência, e todos os ismos a que tem direito o ideal de universalismo com que se configurou a noção de humanidade.





Modernismo é um termo que as vanguardas artísticas descontentes com os rumos tomados pelo progresso encontraram pra contestar aqueles males da modernidade, que comprometiam os valores humanistas que lhes eram mais caros. Mas, os vanguardistas que se diziam modernos, contrários à tradição, traziam já em si a própria marca da modernidade, que é justamente a contradição. Por isso, aquele que se diz moderno pra se opor à uma tradição tida como retrógrada e ultrapassada, cai em contradição; Não adianta vir um movimento que se auto-intitula num primeiro momento, ingenuamente, de vanguarda, propondo de cara uma determinada estética, inovadora e questionadora na linha de uma ruptura estética que vá puxar uma ruptura social - a qual na superfície já se vê que não tem nada de estrutural - alardeando aos quatro cantos do mundo as "novas" estéticas da velocidade, da falta de rima, do verso livre, da desconstrução ... essa Marinete não deixa de ser em seu bojo recheada de modernidade, ou seja, não deixa de viver as contradições próprias de seu tempo, e de refleti-las. Por isso é tão possível que em vários momentos o moderno seja tão barroco. O moderno enquanto um instante fugás de sonho precisa de uma vanguarda pra se legitimar em seguida em modernismo, e assim não escapar à modernidade. É nesse sentido que acredito que apesar de todas as mudanças, e pretensas rupturas, e todos os pós, ainda continuamos ontologicamente modernos; ao contrário do que dizem os pós-modernos que dizem que vivemos o fim das utopias. E se propagam nisso as ideologias do eterno presente, que são perigosamente, a meu ver, destrutivas. Um risco real de realizar o niilismo nietschziano. O moderno é em si utópico, mas tem sempre o futuro a sua frente voltado para o passado. Então, nesse sentido, o que ele vende é uma ilusão. Acontece que essa é uma marca da modernidade, de novo, essa contradição, em que é melhor aprender a inverter os pólos a cada novo cenário que se forma. E, nesse sentido, mais do que nunca, talvez, ser moderno é uma aventura acompanhada de um bom jogador de truco ou de xadrez.





Uma qualidade do moderno é escapar às cristalizações, mas os ismos o ameaçam a todo momento. Por isso acho que não tem muito jeito de ser moderno se não for polêmico. Daí talvez seja melhor ser polêmico do que ser moderno.





O modernismo é mais associado à pintura e às demais artes plásticas. E mais associado também às vanguardas européias.





Os modernistas é como ficaram conhecidos os artistas no Brasil, sobretudo os da vertente literária, responsáveis pelo manifesto modernista da Semana de 22. Não é um movimento coeso, mas sim dá origem a várias vertentes modernistas com propostas diferentes, conforme as representações de jogo de poder que se via na sociedade.





Os vanguardistas jogavam pedra na modernidade, mas nunca tiraram o pé dela. Pelo menos pelo seu lado mais avassalador que era o retrato do que culminou com a primeira guerra mundial. Os primeiros vanguardistas europeus condenavam o progresso a todo custo, jogando balde de água fria no otimismo da ciência, numa época em que a sociologia era a própria disciplina da crença no progresso. A atitude romantica fez os primeiros visionários descontentes se isolarem em ilhas de outras culturas como foi o caso de Gauguin. Aí vem um arrebatado que gosta de aparecer na frente tipo um Marineti que escreve um manifesto antropofágico que serve para entrada na modernidade tupiniquim. E os vanguardistas viraram os modernistas. O barato é ser moderno, e não modernista





Nem tudo que é moderno é bom, e se costuma vender essa idéia





Nem tudo que é moderno é novo, e se costuma dizer que é





O moderno engana, é cara-de-pau









o jogo de definições:





Modernidade é diferente de moderno. Modernidade está mais pra um modismo. Moderno é uma qualidade inerente aos tempos históricos. Em qualquer época você vai encontrar o moderno. O moderno não tem ideologia. É volúvel o suficiente pra não se comprometer com nenhuma. É um curinga que passa de mão em mão, ou se quiser uma definição mais lasciva é uma prostituta. O moderno é autêntico. A modernidade já vem carregada de signos e símbolos. É um receituário de virtude, de progresso, de mudança, de passagem ... é um ícone do futuro. O que é ser moderno? É ser polissêmico. O que é modernidade? Modernidade é um projeto, é uma ideologia, é um programa ... que nos ilude porque implica uma contradição interna, entre o velho e o novo; a modernidade é tensa, e nesse sentido é barroca. Porque contém os dois elementos antagônicos, o que foi e o que virá a ser, é um projeto ... tem uma esperança ... algo a ser alcançado lá na frente, mas que ainda não está pronto ... é uma promessa ... é uma utopia. A modernidade é uma figura de retórica pra legitimar a crença no progresso, no indivíduo, ao mesmo tempo em que nos inscreve na angústia do tempo, trazendo-nos a consciência da mortalidade ... é o que se consagra nos jargões como "vão-se os dedos, ficam-se os anéis", "liberais e conservadores são tudo 'farinha do mesmo saco' e, mais contemporaneamente, "tudo acaba em pizza". Modernidade, na verdade, é um emblema usado pra muita coisa ontem e hoje. Eu prefiro ser moderna, ainda que não escape da modernidade. Moderno é uma atitude, não um slogan. É mais deboche. Ser moderno não é ser barroco, é ser cara-de-pau. O moderno não aceita rótulos, ri de si mesmo. É Sancho Pança, não é Dom Quixote!









Com tantas diferenças discrepantes como é possível pensar o comum? O humanismo não terá sido também uma outra utopia, que anda agonizando nesse início de milênio?





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