quinta-feira, 24 de maio de 2007

Jardins



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(6º capítulo do livro: "O Homem e o Mundo Natural, Keith Thomas, Companhia de Letras, 1996, págs. 288-258):

"No começo do século XIX, o gosto pela natureza selvagem há muito tinha superado essa dependência inicial dos modelos artísticos anteriores, assim como excedera os limites do jardim paisagístico mais "informal". Para os românticos, a natureza "melhorada" era natureza destruída. "O parque de um fidalgo", escrevia Constable em 1822, "é minha aversão. Não é beleza porque não é natureza". (51) A "viagem pitoresca" também era suspeita. Assim como os jardineiros paisagistas procuravam reunir no mesmo espaço todas as belezas naturais e deixar de fora toda coisa desagradável ou desarmoniosa, os viajantes pitorescos olhavam para a natureza apenas em busca de conformidade com um padrão preconcebido ou modelo aceito de harmonia estética. Geralmente viam-se desapontados, pois, como salientava Gilpin, raramente "um cenário puramente natural" era "corretamente pitoresco". Sempre havia uma "rudeza" nas obras do mundo natural; ele nunca produzia "uma gema polida"." Mesmo Gainsborough confessava que as paisagens inglesas raramente conseguiam medir-se pelos ideais artísticos: "Com relação a vistas reais da natureza neste país, ele nunca viu algum lugar que propiciasse um tema igual às mais pobres imitações de Gasper ou Claude". Gilpin não hesitava em proclamar que praticamente todas as montanhas, lagos e quedas d'água do mundo real exibiam "deformidades" que "um olho adestrado desejaria corrigir".(54)* Conforme notaria Wordsworth, o hábito de comparação servia apenas para obscurecer "o espírito do lugar". Para ele, tal como para Constable ou Clare, não podia haver "aprimoradores"; a natureza não tinha deformidades e era impossível melhorá-la. A ameaça efetiva estava na difusão incontrolada da agricultura. (55)"


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Por tudo isso, Kapp considera correto falar de uma aceleração da dialética do esclarecimento na esfera estética. Essa dialética ainda é o espírito que move as pesquisas da autora nos capítulos subseqüentes, destinadas a caçar nas obras dos estetas esclarecidos o ponto cego onde o excesso se esconde e resiste à caracterização conceitual.
















A paisagem das luzes em Portugal: "Contudo, o recurso a esta gramática decorativa e a este vocabulário simbólico não é exclusivo deste campo artístico, destacando-se também noutras áreas como expressão dissimulada de grémios, corporações e sociedades (quase que secretos). Reconheça-se na Flauta Mágica, de Schikaneder e Mozart, o enredo e na vasta obra de Piranesi a iconografia, ambos de apropriação maçónica.
É nesta conjuntura idealista, crítica e moralizadora que se explora a pedagogia das viagens míticas e se evidenciam descidas literárias às profundezas como veículos morte, purificação e renascimento. Nos finais do século XVIII, obras fantasiosas excedem esta atitude pedagógica exaltando ritos e mistérios, sendo concretizadas de forma óbvia na concepção dos labirintos, túneis, criptas, grutas e cascatas ruídosas de muitos parques e jardins paisagistas. Denote-se a sinergia desenvolvida entre literatura e paisagem que se reflecte tanto na criação de parques e jardins, como nas muitas publicações e outras obras de cariz social e alegórico efectuadas ao longo do século XVIII".
Lago da Lua e Templo da Piedade (Studley Royal - Londres)
Hermenêutica da paisagem

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