sexta-feira, 25 de maio de 2007

MELANCOLIA MORTE "FESTA GALANTE"

Celina - UFRJ
"Lemos esta comparação entre o “campanário silencioso” de Watteau e a mensagem gravada no túmulo do quadro de Poussin, como um argumento de que, habilmente, se vale Houssaye para atribuir à obra de Watteau o valor alegórico que fará dele um “grande pintor”.

"(...) Travessias para Citera A busca de elementos alegóricos na obra de Watteau complementa-se em uma rede textual em que as telas e temas do pintor são transpostos em poemas e narrativas que invertem o tema da «festa galante», agora associado à melancolia, e cantam o tema da morte. Nestes textos, Citera, a ilha do amor erótico e dos prazeres sensuais, é evocada em tons macabros e até mesmo “góticos”. Produz-se, deste modo, o desdobramento significante, definido por Freud no conceito de unheimlicht (1976), que faz do mais familiar e aprazível o véu que encobre o supremo horror. Assim, os poemas de Baudelaire “Os faróis” (“Les phares”)7 e “Uma viagem a Citera" (“Un voyage à Cythère”) integram essa rede textual e o poeta associa-se “textualmente” ao antigo grupo do Doyenné, conferindo à obra de Watteau as dimensões da pintura dos grandes mestres. “Os faróis” transpõe o gênero pictural dos medalhões, fazendo em cada estrofe do poema um pequeno “retrato” de pintor. Watteau é ali celebrado em companhia de Rubens, Leonardo da Vinci, Rembrandt, Miguelângelo, Puget, Goya e Delacroix, pintores que representam, para Baudelaire, a declaração de um programa estético não academicista. Em “Uma viagem a Citera”, um estudo das fontes do poema, feito a partir de seus dois manuscritos conhecidos, revela também a presença de um membro da antiga tribo da boemia do Doyenné. O manuscrito dito ms. apresenta o sub-título “Dedicado a Gérard de Nerval”.8 No manuscrito D.P. 9 (Doze Poemas, encaminhados a Gautier), à direita do título, há a seguinte observação : “O ponto de partida deste poema são algumas linhas de Gérard ([em] L’Artiste) que seria bom encontrar” (BAUDELAIRE 1975: 1069). Pichois acrescenta que a mesma recomendação pode ser encontrada no manuscrito ms., abaixo e à direita do título e da dedicatória : “Aqui, colocar como epígrafe algumas linhas de prosa que me serviram de programa e que penso ter lido em L’Artiste” (BAUDELAIRE 1975: 1069-70). Diz também Pichois que talvez o manuscrito ms. tenha sido enviado a Nerval. Abaixo da epígrafe, Baudelaire deixara sete linhas horizontais, para indicar onde inserir o texto de Nerval".

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