terça-feira, 15 de maio de 2007

Um jardim de sombras. Pérgolas ensaiam um labirinto de rituais de passagem. Parece que dali vai sair um casamento. Há uma ala, de bancos enfileirados e canteiros laterais conduzindo ao arco do triunfo de pedras e trepadeiras. Os desníveis são teatrais. Estranham as dimensões humanas. Em certas partes me sinto um gigante, à mesma altura que fico da estrutura, descortinando além da moldura de sustentação da pérgola um anfiteatro. E dali tenho a a sensação de estar numa coxia. De onde ninguém pode me ver, mas eu posso ver todo mundo. Me sinto uma traidora, uma delatora, uma espiã, voyer: um observatório obsceno. A arena como ágora. E as mesas de jogos, damas. O recanto do lúdico e da solidão. Um grupo de jovens estudantes contentes, brincando, fazendo estardalhaço, ocupavam a cena oratória, até a área de playground. Enquanto o leitor voraz, entretido, se retirava das sombras, e buscava a companhia das árvores, exposto ao vai-e-vém dos passantes, mas reservado em seu canto de retiro. Quer a cabeça de Camões, com o olho vazado, pra lá. Que ninguém o perturbe. Daí eu ter que tirar fotos de longe, sob o risco dele sair dali de mansinho, contrariado, por ser tirado da concentração de sua leitura. Uma escada ensaia alcançar o topo de uma colina, nos dando a idéia de um topos sagrado, acima do nível da rua, um acesso escolhido por muito poucos. Uma menina está ali, triste, a pensar.




Básico. Esqueci de usar o truque da fixação no branco antes, pra tirar essa foto da estátua negra de Camões


(Pça. Marília de Dirceu)

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